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Amanita muscaria

Impressões de um Boticário de Província

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Não confio na DECO 

Medicamentos sem receita mais baratos 20% nos hipermercados

Em primeiro lugar não confio em S.A. e multinacionais na defesa do consumidor (que me enchem a caixa de correio-e com spam);
Em segundo não confio em estudos com uma amostragem miserável de 19 medicamentos, que não serão os mais importantes para os doentes;
Em terceiro, enquanto que as farmácias prestam serviços de proximidade aos doentes, junto das populações, os hipermercados servem apenas os grandes centros, a carne; enquanto que as farmácias - qualquer uma, mesmo em cascos-de-rolha - têm no mínimo 2 farmacêuticos um hipermercado pode bem ter apenas uma sopeira a aconselhar medicamentos aos doentes. Isto paga-se.
Em quarto lugar, como é bem sabido, a grande distribuição anseia há muito pela entrada no mercado Farmacêutico e isto explica muita coisa.


Peliteiro,   às  10:41

Comentários:

 

Peliteiro,

1. O estudo fala de factos. Tem algum facto para partilhar sobre medicamentos e preços?
2. Porque é que aqueles 19 medicamentos nao sao importantes? Porque sao mais baratos?
3. A grande superficie ja esta no retalho farmaceutico. Em breve ira produzir marca propria em cosmetica e OTC. Tal como a Boots. "Isto explica muita coisa". Ajude-me a perceber: o que?

PGM

 

 

 

PGM,

1- Estudos há muitos. Inclusivamente sobre preços de MNSRM existem estudos anteriores com conclusões contraditórias.
2- Aqueles 19 medicamentos são uma amostra mínima em relação à totalidade dos MNSRM comercializados em Portugal, não necessariamente os mais importantes.
3- A grande distribuição não tem farmácias nem pode abrir livremente farmácias. Mas quer.
# por Blogger Peliteiro : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Estamos a discutir "tostões".
O dinheiro ainda está no mercado da prescrição.
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Nas farmácias também há muitas sopeiras. E se no hipermercado pode estar apenas uma sopeira é porque a legislação miseravelmente negociada o permite. Para os farmacêuticos comunitárias assalariados (ou seja, maioria absoluta) é indiferente se a grande distribuição abre ou não abre farmácias, desde que sejam respeitados todos os critérios técnico-científicos que devem reger a dispensa de medicamentos à população. Os únicos que têm a temer com a liberalização da instalação de farmácias são os actuais donos de farmácia/comerciantes de medicamntos - e esses já tiveram o seu tempo; é hora de inovar e de EVOLUIR.
# por Anonymous Estagiário : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Eetava com dor de cabeça e fui a uma dessas lojas de uma grande distribuidora...
Pedi ben-u-ron (paracetamol) e a senhora com muita convicção:
"Tome aspirina que é a mesma coisa!"
Eu, muito espantado com a resposta, perguntei:
"E isso faz mal a quem tem ulcera?"
Ao que a senhora responde:
"Não, na publicidade diz que não faz mal ao estomago..."
Sem mais comentários...
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

"Tome aspirina que é a mesma coisa!"

Já me disseram parecido numa farmácia.

E pior, venderam antibióticos sem receita.

Passem lá os medicamentos de receita para os hipermercados que também quero pagar menos 20% nesses.
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

«Passem lá os medicamentos de receita para os hipermercados que também quero pagar menos 20% nesses.»

É exactamente esse o pensamento pretendido, próprio de pacóvio-liberais.
# por Blogger Peliteiro : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

São os mercados...
O mercado trata da sua própria regulação...
Tentar regular os mercados é atitude socialista...
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Não existe, que eu conheça, um só estudo que demonstre que o atendimento na farmácia é superior ao atendimento nas parafarmácias dos hipers.

O que temos é um discurso alarmista sobre o caos que seria a venda de medicamento fora das farmácias.

Os OTC's já estão fora das farmácias à vários anos; onde estão os grandes problemas?

Nos medicamentos de receita haveriam seguramente beneficios em deixar a grande distribuição entrar.

O cuidado maior será evitar monopólios que venham a substituir o cartel que temos agora.
# por Anonymous Pacóvio-liberal : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

É preciso acabar com a ANF, é preciso sangue novo, é preciso LIBERALIZAR e acabar com o "feudo ANF". Os farmacêuticos assalariados que abram a pestana, ou terão de continuar a imigrar para o REINO UNIDO para terem uma vida satisfatória monetaria e profissionalmente! O feudo da ANF só serve os donos-comerciantes de medicamentos.
# por Anonymous Estagiário : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Estagiário; explique como pretende acabar com o feudo da ANF? Ou está à espera que eles deixem de existir só porque o amigo estagiário quer?
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Bem, se vamos falar de conselhos farmacêutico-sopeiros, devo dizer que também já vi diagnósticos de reputados especialistas médicos que se revelaram verdadeiras sapateirices...com a diferença de que foram muito bem pagos...e não devolveram o dinheiro, apesar de constituirem qualquer coisa parecida com tentativa de homicidio (não premeditado, certamente, acho eu! )
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

O Peliteiro diz que tem de fonte segura que a liberalização não está em cima da mesa.
Pelos vistos existe quem se esteja a mexer para contrariar a sua fonte.
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Aproveitando a presença daqueles que sabem tudo, só para minha informação, conhecem alguma parafarmácia certificada ISO9001?
# por Blogger Peliteiro : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Peliteiro, você já nos explicou neste blog como são feitas as certificações das farmácias; com copy & paste de dossiers de outras.
Não venha agora com histórias de ISOs.
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Sim, sim. Fie-se na virgem... Isso é com o mofento Infarmed. Faça isso com um auditor de certificação e vê como leva para tabaco.
# por Blogger Peliteiro : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Na farmácia onde estou uma dessas técnicas ajudantes formadas pela ANF dizia que o Varfine "é para a tensão". Portanto, sopeiras e sopeirices há tanto no hiper como na farmácia. Este modelo de farmácia português, com remendos aqui e ali - sempre na perspectiva de manter os interesses da ANF - é tão mofento quanto o Infarmed. Uma desgraça.
# por Anonymous Estagiário : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Curioso como o Peliteiro se escapou a duas questões e respondeu de forma muito mediocre a outra. Lamentável. Atira uma opinião e depois não tem arcabouço para a sustentar devidamente...
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
# por Anonymous Colega farmaceutico : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Doutor mesmo que apague o comentário ,ele vai começar a circular na net
# por Anonymous Anónimo : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

«Curioso como o Peliteiro se escapou a duas questões»

Agora sou obrigado a responder a tudo que me perguntam? Nem sequer leio todos os comentários...
# por Blogger Peliteiro : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

Este comentário foi removido pelo autor.
# por Blogger Peliteiro : terça-feira, novembro 22, 2011

 

 

 

A maior parte dos comentários que aqui estão parecem vindos directamente do departamento de propaganda da Sonae.

O facto de serem quase todos eles, à excepção dos do peliteiro, de índole destrutiva demonstra bem o prurido todo que anda para aí.

Convençam-se de uma coisa, as vossas opiniões e anseios por amanhãs cantantes são irrelevantes e irrisórias. As Farmácias estão cá há muitos séculos e vão continuar a estar. A anf está cá há várias décadas e vai continuar a estar.
# por Blogger Azrael : quarta-feira, novembro 23, 2011

 

 

 

A aposta das farmácias não deve ser no campeonato dos preços mas no da qualidade de serviços. Já digo isto há muito tempo...
# por Blogger Peliteiro : quarta-feira, novembro 23, 2011

 

 

 

Ora aí está Dr. Peliteiro.
As farmácias apostam na qualidade, outros apostam nos preços, e depois o bem-aventurado mercado define tudo.
Nem sei onde está aqui a polémica.
# por Anonymous Anónimo : quarta-feira, novembro 23, 2011

 

 

 

A polémica existe porque o "mercado", que tantos diabolizam no caso dos ditos financeiros, afinal na farmácia já deve ser idolatrado.
Foi precisamente a defesa do preço baixo ao consumidor como único objectivo do "mercado" que destruiu por completo a indústria europeia. Hoje, estamos à mercê dos países super-desenvolvidos como a Índia ou a China que se riem de nós quando lhes pedimos dinheiro.
É óbvio que, no imediato, o consumidor valoriza o preço baixo mas, a longo prazo, o consumidor deixa pura e simplesmente de existir e isso, está-se a verificar, mata o "mercado".
Seria bom parar para pensar se este modelo económico que (ainda) nos rege, nos leva a algum lado.
Trazendo isto de volta às Farmácias, a defesa do liberalismo total aplicado a este sector, não tenham dúvidas, pode trazer foguetes e arraial nos primeiros dias, mas a longo prazo, não traria nada de bom ao sector e ao País.
# por Blogger Farmasa : quarta-feira, novembro 23, 2011

 

 

 

É evidente que a notícia da DECO foi encomendada. Mas para nós farmacêuticos constitui um sinal dos tempos que correm. Nesta altura, a necessidade dos cidadãos é efectivamente gastar menos com medicamentos. E não é só nos MNSRM. Contudo, uma alteração como a liberalização iria tornar muitas farmácias insustentáveis (se com o mercado protegido, é a vergonha que se assiste, imagine-se num mercado liberalizado...). A solução não é fácil, mas há que pensar em alternativas. Está na altura de deixar de remunerar as farmácias por margem de lucro nos medicamentos. Está na altura de avançar para a remuneração por serviços, de forma a tornar sustentável a profissão de farmacêutico comunitário. E não, não é pagar o aconselhamento. Não existe aconselhamento nas farmácias que valha mais de 1 euro... (às vezes é bastante miserável - ter de ir à farmácia como cliente tem sido um abre-olhos. Não me identifico com o actual paradigma onde coisas como cross-selling são parte do léxico diário). O serviço de dispensa deve ser remunerado como tal, e deve incluir a dispensa, seguimento terapêutico e a renovação da prescrição. Outros serviços como os cuidados farmacêuticos devem ser novamente incentivados, para que possam também constituir fonte de receitas. Aqui contudo, há que acautelar as populações mais vulneráveis (idosos, desempregados, crianças) para que os serviços farmacêuticos se pautem também pela equidade e não sejam um luxo que apenas alguns poderão utilizar.
Está também na altura de deixarmos de ter esta atitude corporativista que só interessa aos actuais proprietários e deixa um cada vez maior número de farmacêuticos insatisfeito com as suas condições laborais. Sim, porque efectivamente, é indiferente trabalhar para o João Cordeiro ou para o Belmiro de Azevedo. Os farmacêuticos proprietários comportam-se como se pertencessem a uma casta superior, bloqueando o acesso aos restantes a uma carreira decente. Quem tem 10 anos de carreira, onde já fez tudo o que havia para fazer, devia ter direito a aceder à propriedade. Mas sendo isso impossível, num cenário de liberalização pelo menos garantia-se que os melhores farmacêuticos iriam competir pelos melhores lugares e ver recompensada a sua formação contínua e o seu desenvolvimento profissional.
# por Blogger GreenMan : quarta-feira, novembro 23, 2011

 

 

 

Ó GreenMan não vale a pena, estes toscos proprietários não vão nem querem perceber. Eles já não são farmacêuticos, são autênticos merceeiros que só pensam em "cross-selling" e afins. Só é pena é que os farmacêuticos sejam uns resignados e não dinamizem o Sindicato Nacional dos Farmacêuticos para fazer frente à degradação das condições laborais e do próprio exercício da profissão - com o qual a Ordem dos Farmacêuticos se devia preocupar, não fosse esta dominada por donos de farmácia - sujeitos aos interesses dos comerciantes de medicamentos que nem sabem o que é um balcão de farmácia. Resta ver o número de farmacêuticos emigrantes no Reino Unido subir. Este país não esta para jovens.
# por Anonymous Estagiário : quinta-feira, novembro 24, 2011

 

 

 

GreenMan e Estagiário, vocês entram em completa contradição com os vossos próprios argumentos e nem se apercebem disso.

Em que utopia querem os senhores fazer acreditar que é possível um atendimento de qualidade e exercer verdadeiros serviços farmacêuticos (não estes protótipos que se vêm por ai) existindo uma liberalização total de mercado?

Sabem o que significa liberalização? Significa que o mais forte prevalece.

Sabem quem é o mais forte? É aquele a que consegue a satisfação dos clientes.

Sabem quem é o farmacêutico que é recompensado com a satisfação dos clientes? Não, não é o que presta um bom serviço e recusa a venda do antibiótico ou da benzodiazepina porque não são adequados à situação, pelo contrário, é o que o faz descaradamente.

Deixem-se de teorias estratosféricas e desçam à terra. A concorrência na saúde não funciona como nos outros sítios e vocês, sendo farmacêuticos (ou quase) deveriam ser os primeiros a reconhecer isso.
# por Blogger Azrael : sexta-feira, novembro 25, 2011

 

 

 

Por fim, estagiário, faça um favor à classe e a si próprio, não meta todos no mesmo saco. Todos os proprietários de farmácia que conheço pessoalmente são excelentes profissionais que se pautam pelos mais elevados padrões profissionais. Nunca os vi a proferir comentários de índole semelhante aos seus acerca de farmacêuticos não proprietários, pelo contrário. A sua experiência pode ser, até agora, infelizmente má, mas se é um bom farmacêutico decerto reconhece o conceito de (ir)relevância estatística.

Por outro lado não estamos em altura de criar divisão mas sim união.

Se você tiver maturidade para perceber isso vai achar alguma verdade no que acabou de ler. Caso contrário, olhe, o que não faltam por aí são outros cursos e o Reino Unido, como muito bem disse, está a 15€ de distância pela ryanair.

Outra coisa GreenMan, o tio Belmiro não será certamente tão condescendente com os seus recursos humanos como a maior parte dos seus diabolizados proprietários de farmácia. Acha que ele vai contratar mais farmacêuticos do que as farmácias contratam ou, como já faz na well's, minimizar os custos ao máximo colocando um farmacêutico responsável por 5 parafarmácias (isto quando são farmaceuticos) e pessoas sem nenhuma formação superior em saúde ao balcão?

Essa esperança ingénua é, simplesmente, risível.
# por Blogger Azrael : sexta-feira, novembro 25, 2011

 

 

 

Caro Azrael, a utopia em que quero acreditar é a Austrália... Informe-se melhor antes de mandar bojardas, porque um farmacêutico também é isso, uma pessoa informada.
Sim, efectivamente na liberalização o mais forte prevalece. E sim, o mais forte é o que consegue maior satisfação dos clientes. O que nos traz duas coisas: Os clientes querem ou não querem gastar o mínimo possível com as despesas da farmácia e ao mesmo tempo sentirem-se satisfeitos? Acha que obrigá-los a gastar mais é o melhor caminho para melhorarmos a nossa imagem como profissionais de saúde? Há diversas evidencias que apontam os sistemas liberalizados como os do UK como mais eficientes e nós não nos questionamos sobre isso, e queremos continuar com um sistema caduco, em que uns poucos saem beneficiados em prejuizo do resto dos profissionais e população? Saberá que lá no UK têm incentivos aos serviços farmacêuticos e que estes, tal como na Austrália, estão já muito desenvolvidos? Se a remuneração principal do farmacêutico for os serviços, não acha que diminui a preocupação mercantil libertando-nos para focar no que realmente interessa?
O problema da liberalização não é a qualidade do serviço, que essa tenderia a melhorar e de forma mais eficiente. Um exemplo disso são as localidades onde só existe uma farmácia que se dá ao luxo de atendimentos miseráveis pois não tem qualquer concorrência. Ou as pessoas das zonas rurais não têm direito a atendimento de qualidade? E antes que diga que essas farmácias seriam as primeiras a sofrer, lhe digo desde já que numa altura em que se coloca tanta fé nos sacrossantos mercados, é de estranhar que neste mercado ninguém mexa... ou então não.
O espírito corporativista desta profissão teima em não nos abandonar, o que fica bem claro quando ao encontrar pessoas que discordam de si os manda emigrar.
Temos um problema que tenderá a piorar no futuro. Estamos a formar gente a mais e a única alternativa que lhe damos é emigrar. A verdadeira "paquistanização" dos farmacêuticos portugueses, se é que me percebe. Quando dentro da profissão ouvimos sugestões destas em vez de se discutir se o actual sistema é o melhor para as necessidades dos portugueses, tá tudo dito em relação aos ditosos proprietários.
Por ultimo, caro Azrael, o tio Belmiro e outros não iriam fazer nada de muito diferente ao que o tio Cordeiro e seus comparsas andam a fazer em Angola e na Polónia. E que já começam a fazer em Portugal, devido ao já notório excesso de profissionais. Os ordenados dos novos profissionais estão a baixar, colegas com 10 anos ou mais a sofrerem pressões de proprietários para baixarem os ordenados, a serem tratados como meros empregados indiferenciados, como se não houvesse um código deontológico.
Se querem criar união, deixem-se de coisas e defendam os profissionais que todos os dias dão a cara por proprietários farmacêuticos, que estão no espaço da farmácia meia hora por dia.
Não sou ingénuo. Já avaliei os pontos positivos e negativos de uma alteração como esta. Sabe que já há muita informação sobre esse assunto? Se calhar não se deu ao trabalho de procurar e fala de cor. Perdoou-lhe a ignorância.
# por Blogger GreenMan : segunda-feira, novembro 28, 2011

 

 

 

Caro GreenMan,

A propósito de ignorância, julgo que o que pretendia escrever era "perdoo-lhe".

Então a a Austrália, diz-me o senhor, tem uma liberalização total de mercado das farmácias? Não será você quem tem que se informar?

A Austrália que tem, não uma, mas sim 8 regras diferentes (uma por região/estado) de propriedade de farmácias e, na sua maioria, ainda mais restritivas do que Portugal?

Sabia por acaso que em todas as regiões da Austrália só é permitida a propriedade de farmácias a farmacêuticos ou a corporações detidas única e exclusivamente por farmacêuticos? Sabia que só em dois dos estados não existe um limite no número de farmácias que estes indivíduos ou sociedades podem deter? É isto a sua ideia de mercado da farmácia totalmente liberal?

Mais, quer mesmo comparar a Austrália a Portugal? A dimensão do território? A capitação? Por favor...

"Acha que obrigá-los a gastar mais é o melhor caminho (...)?"
Não, não acho, nem sequer toquei no assunto.

"Há diversas evidencias que apontam os sistemas liberalizados como os do UK como mais eficientes"
Quais evidências? Gostava de saber.

"uns poucos saem beneficiados em prejuizo do resto dos profissionais e população?"
Então o seu problema é com os "beneficiados" ou a solidariedade à população? Se eu não tenho, eles também não podem ter? Explique-me, de que forma é prejudicada a população?

"Saberá que lá no UK têm incentivos aos serviços farmacêuticos e que estes (...)estão já muito desenvolvidos?"
Perfeitamente, excepto a parte do muito desenvolvidos pois na verdade estão a dar os primeiros passos.

"Se a remuneração principal do farmacêutico for os serviços, não acha que diminui a preocupação mercantil libertando-nos para focar no que realmente interessa?"
Completamente de acordo. Mais, se não formos por esse caminho, a profissão farmacêutica extinguir-se-à em algumas décadas.

Continuando, parágrafo a parágrafo. Tenderia a melhorar? Mas em que se baseia para afirmar isso? Explique-me. Dá-me um exemplo pela negativa (um exemplo num universo de milhares, mas enfim) de uma farmácia isolada numa localidade dá atendimentos miseráveis porque não tem concorrência. Então, pelo seu raciocínio, numa zonas onde há mais farmácias por metro quadrado como por exemplo a baixa do porto, os atendimentos devem ser fantásticas experiências zen com happy ending incluído. Pois... a realidade não é bem essa, pois não?

"E antes que diga que essas farmácias seriam as primeiras a sofrer..."
Pelo contrário, seriam provavelmente as últimas, o tio belmiro sabe que onde está o dinheiro.

"O espírito corporativista desta profissão teima em não nos abandonar"
Não estou à espera que compreenda o que vou escrever de seguida mas alguém com mais maturidade e que conheça a história da farmácia em portugal concordará: devia-lhe estar grato pois é graças a esse espírito que ainda tem uma profissão digna desse nome. Por outro lado, tal como já lhe expliquei, o espírito corporativista está bem mais patente na sua exemplar Austrália do que em Portugal.

"...o que fica bem claro quando ao encontrar pessoas que discordam de si os manda emigrar."
Eu não mando em ninguém mas posso fazer sugestões, não? Não me parece ser assim tão descabida. Mas, como deve ter reparado, não me limito a isso, dando-me ao trabalho de tentar explicar-vos porque razão estão errados. Se aceitam a explicação ou não já não é comigo...

Infelizmente há, de facto, um excesso de farmacêuticos em portugal (algo a que me opus activamente durante a minha actividade associativa). Para si a solução é paquistanizar as farmácias, para utilizar uma expressão sua. Não creio que seja a melhor solução nem para os farmacêuticos nem para as farmácias.
# por Blogger Azrael : segunda-feira, novembro 28, 2011

 

 

 

"Quando dentro da profissão ouvimos sugestões destas em vez de se discutir se o actual sistema é o melhor para as necessidades dos portugueses, tá tudo dito em relação aos ditosos proprietários."
Sugestões destas? lol Isto é cómico. Deixe-me dizer-lhe, pode ter a certeza que se não estivesse já empregado, emigrar para o UK seria a primeira coisa que faria, sem hesitar. Mas parece que na sua cabeça, ir atrás do emprego e das condições laborais é uma coisa má, até porque é sugerida pelo malvado corporativista. Enfim... Faz-me lembrar o post do peliteiro acerca da greve geral "Ainda não perceberam que não há dinheiro?".

Depois cai novamente em outras banalidades em que coloca os proprietários todos no mesmo saco, etc...

Eu defendo todos os farmacêuticos, excepto aqueles que, conscientemente ou não, defendem a sua própria destruição e a das farmácias.

Pois, de facto devo falar de cor, devo. Está "perdouado".
# por Blogger Azrael : segunda-feira, novembro 28, 2011

 

 

 

Caro Azrael,

Desde já lhe agradeço pela resposta, mostra que está disposto a discutir este assunto. Quanto ao erro, obrigado pela correcção. São confusões do acordo ortográfico...

Em relação à Austrália, admito que posso ter efectuado uma interpretação errada. Obviamente que um mercado totalmente liberal não é isso, sendo que os exemplos mais correctos são os conhecidos do UK e alguns países nórdicos. Mas a minha utopia com a Austrália não tem a ver com o mercado, tem a ver com prática farmacêutica. Lamento a confusão que lhe possa ter causado.

Sobre a liberalização, a minha perspectiva é que de facto torna o sistema mais eficiente ao permitir a integração vertical e horizontal, contribuindo para diminuição dos custos da cadeia de distribuição, libertando recursos financeiros para outras coisas, como por exemplo manter as remunerações. Sobre a eficiência dos sistemas liberalizados, gostaria que efectuasse um comentário sobre os seguintes artigos:

Lluch M, Kanavos P. Impact of regulation of Community Pharmacies on efficiency, access and equity. Evidence from the UK and Spain. Health Policy. 2010 May;95(2-3):245-54.

Almarsdottir AB, Morgall JM, Bjornsdottir I. A question of emphasis: efficiency or equality in the provision of pharmaceuticals. Int J Health Plann Manage. 2000 Apr-Jun;15(2):149-61.

A meu ver, a população sai prejudicada com o actual sistema porque este é mais dispendioso. Só isso. Quando somos os primeiros a apontar a falta de eficiência do SNS, não acha que deveríamos pensar a sério neste assunto?

Se a liberalização acontecer em Portugal, penso que a ANF até ficaria em vantagem, pois até já detém uma percentagem considerável da Alliance. Seria uma corporação detida por farmacêuticos, como o exemplo australiano. E iriam surgir outras cadeias mais pequenas, a partir dos grupos "franchisados" que actualmente já existem. Isto iria contribuir para um ambiente de maior inovação, mais e melhores serviços e possivelmente, mais evidências sobre o que funcionaria no mercado português. De certo concordará que as evidências nacionais sobre serviços farmacêuticos são escassas.
A meu ver, a chave para que havendo liberalização o farmacêutico não perdesse importância passa pela remuneração por serviços. Se isto não acontecer, não sou tão optimista quanto ao futuro do farmacêutico comunitário, pois julgo que não serão muito mais de 10 anos. Somos demasiado caros para o que fazemos na farmácia senão passarmos a ser um prestador de serviços farmacêuticos diferenciados. Como é que se consegue fazer o equilíbrio entre pagar a estes profissionais com receitas cada vez mais diminutas? Com mais acção corporativa, ou com evidências da eficiência económica dos diversos modelos de propriedade?

Quanto à tendência de melhoria... não sei como é a sua experiência como cliente. Desde que passei para este lado, constato que a falta de concorrência foi um dos factores que mais levou às más práticas. E vivo em Lisboa. O exemplo da zona rural é real, e as generalizações são perigosas bem sei, mas tenho experiência de norte a sul para lhe fazer a afirmação que fiz sem receio de errar. As concorrência iria fazer melhorar a qualidade do serviço, disso não tenho dúvidas. Mas é sempre enquadrado numa remuneração por serviços, não esquecer. As muitas farmácias da baixa do Porto poderiam até vir a ser menos, mas melhores. Não sei se seria uma experiência zen, nunca tive dessas numa farmácia....
Por outro lado, faz falta um sistema de informação que impedisse a venda de MSRM sem receita, desta forma evitando-se um tipo de más práticas. Há pelo menos uns 10 anos que a tecnologia existente o permitiria, mas a Consiste/Glint não quis... Com a transferência electrónica de receita será virtualmente impossível, pelo que muito em breve isto deixará de ser um factor preocupante.
# por Blogger GreenMan : terça-feira, novembro 29, 2011

 

 

 

Quanto ao espírito corporativista, lamento não ter a maturidade suficiente para o alcançar. Não sou dessa geração ou condição. Deve ser isto a que se chama "generation gap". Sobre as diferenças entre os mais novos e os mais velhos, sugiro este relatório, encomendado pela OF:

Duarte A, Nunes F, Martins L. Responsabilidade Social no Sector as Farmácias em Portugal. Lisboa 2007.

Entre outras coisas, neste relatório já indícios de que o que separa os mais novos dos mais velhos é que os primeiros têm uma perspectiva mais profissional, enquanto os segundos são mais comerciais. Talvez a preocupação com o negócio já não seja assim uma tão grande prioridade. É uma hipótese que merece reflexão.

Quanto à emigração, não teme que chegados ao UK estes farmacêuticos tenham uma epifania? É que se eles regressam com ideias, ainda vai ser um problema...
A mim preocupa-me mais que ainda não tenhamos uma prática centrada nos serviços. As razões são diversas claro, e os proprietários não são os únicos. Sobre este assunto já muito foi escrito e feito, até que já se começa a questionar se a vontade de mudar existe mesmo. Veja este artigo:

Rosenthal M, Austin Z, Tsuyuki RT. Are pharmacists the ultimate barrier to pharmacy practice change? Canadian Pharmacist Journal. 2010;143(1):37-42.

Não me vou alongar muito mais. Se quiser comentar os artigos que referi, terei todo o gosto em ler as suas opiniões, pois é da discussão que nascem ideias.
Só quero deixar claro que nunca defenderei um "brain drain" do meu país, seja de quem for. Prefiro trabalhar para que as coisas mudem, doa a quem doer.

Cumprimentos
# por Blogger GreenMan : terça-feira, novembro 29, 2011

 

 

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