<$BlogRSDUrl$> Impressões de um Boticário de Província
lTradutor Translator
Amanita muscaria

Impressões de um Boticário de Província

Desde 2003


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Falta de médicos 

Quando escrevo sobre o tema "falta de médicos" logo os médicos retaliam dizendo que as minhas opiniões estão vinculadas a frustração, recalcamento, etc, pelo facto de eu ser licenciado em Ciências Farmacêuticas e não em Ciências Médicas. Não é verdade e não é por causa desse tipo de argumentação, pobre, que deixo de escrever o que bem me parece. A verdade é que julgo que um dos principais problemas da saúde em Portugal é precisamente a falta de médicos e a consequente falta de poder negocial do Estado; situação tão evidente que me espanta, muito, como é possível perpetuar-se ano após ano, década após década.

O Prof.º João Cardoso Rosas escreve hoje no DE um artigo que vale a pena ler:

«Falta de médicos
Quase todos os dias nos chegam notícias relacionadas com a falta de médicos em Portugal. Há centros de saúde no interior do país onde a situação é dramática.
Muitos portugueses, mesmo nos grandes centros urbanos, não têm médico de família e encontram-se numa situação de discriminação em relação aos restantes. Mas o problema afecta também as urgências hospitalares e nem a cidade de Lisboa é excepção.
Diante disto, o que diz a Ordem dos Médicos? O seu actual bastonário - e, pelo que vou lendo, também os candidatos a bastonário - acentua o processo de reformas antecipadas como responsável pela situação. Ou seja, empurra todas as culpas para o Governo. É da mais elementar honestidade intelectual admitir que as reformas antecipadas são parte do problema. Mas é desonesto não mencionar a política de estrangulamento do acesso aos estudos de medicina seguida durante anos, com o apoio e incitamento da Ordem dos Médicos. O actual bastonário disse recentemente que nunca tinha pressionado o poder político nesta matéria. Mas todos nos lembramos da crítica violenta que ele dirigiu, ainda há pouco tempo, à abertura do curso de medicina na Universidade de Aveiro, acenando com o fantasma do desemprego entre os médicos.
Os resultados directos da política de estrangulamento do acesso aos estudos de medicina estão à vista de todos. Mas há um resultado indirecto e ainda mais devastador que não costuma ser mencionado. Refiro-me ao facto de a solução - sempre parcial - para o problema português assentar na imigração de médicos estrangeiros para o nosso país. Ora, muitos deles vêm de países africanos, do Brasil e de outros países da América Latina, etc.
Devido a este movimento migratório, há áreas extensíssimas e muito povoadas em países menos desenvolvidos que hoje em dia estão abandonadas em termos de assistência médica. Ou seja, a solução - parcial - para o nosso problema cria problemas ainda maiores em outros países com muito menos recursos do que o nosso.
Em suma: o problema da falta de médicos é global, mas a situação extrema de países como Portugal está não só a prejudicar directamente os nossos concidadãos, como também a causar grande dano no mundo em desenvolvimento. Só mesmo alguém mal formado ou cego pela defesa de interesses corporativos pode considerar que não devemos correr o risco de formar (muitos) mais médicos.
No entanto, é necessário ter em atenção que a culpa não se esgota no lóbi da Ordem dos Médicos. Sucessivos Governos foram cedendo a esse lóbi e compartilham a responsabilidade pela situação actual ao não abrir mais vagas nas universidades estatais, ou ao bloquear a abertura de cursos de medicina no sector privado.»

Peliteiro,   às  11:30

Comentários:

 

Viva colega,

Confesso que neste caso, não concordo que faltem médicos. Ainda há bem pouco tempo foi revelado que, comparativamente com os outros países europeus, até temos um rácio médico/habitante, acima da média.
No entanto, apesar deste indicador, a verdade é que faltam médicos aos cidadãos. Porquê? Há variadíssimos motivos, mas na minha opinião, a grande razão prende-se com o facto de não se exigir à classe médica, tal como se exige ao professores, a sua disseminação territorial. Como corolário desta política, temos que em alguns hospitais de cidades como Coimbra ou Lisboa, chegam a haver mais médicos que doentes em alguns serviços, enquanto na provincia há 1 médico para 20...
Para além disto, esta aparente escassez faz aumentar (e brutalmente como já se viu) os custos com a contratação médica, que vendo esse maná, se aproveita da situação, e neste momento, não está disponível para ser parte da solução, mas sim para perpetuar o problema.
É preciso coragem para enfrentar esta questão e, para já, a ideia que há dias ouvi de impedir que os médicos saiam do SNS durante algum tempo após a sua formação (que foi largamente paga por todos nós), parece-me da mais elementar justiça. Só falta passarem a "obrigar" os médicos a efectivamente se espalharem pelo país e não se concentrarem nas cidades.

 

 

 

É claro que há assimetrias na distribuição de médicos, assim como há na distribuição por especialidades (os 100 médicos colombianos contratados esta semana irão para a região de Lisboa fazer cuidados primários), mas isto resulta também da falta de poder negocial dos Governos que referi. Quanto aos rácios e estatísticas há-os para todos os gostos e, há quem diga, alguns consideram até médicos mortos há mais de 10 anos.
Mas o essencial é o que diz: «a verdade é que faltam médicos aos cidadãos».
# por Blogger Peliteiro : sexta-feira, janeiro 14, 2011

 

 

 

Sim, faltam médicos aos cidadãos, mas acho que a tónica deve ser dada à sua incorrecta distribuição. Claro que a Ordem dos Médicos sempre influenciou a entrada nas faculdades de modo a permitir a continuação da elite médica. Claro que poderiam haver mais.
Mas o perigo deste discurso é suceder o mesmo que aconteceu com os planos para reduzir listas de espera: Pagavam aos médicos para trabalhar no horário normal mas, se não produzissem, eram premiados com pagamentos para reduzir a lista de espera que eles próprios tinham criado. É este tipo de lógica que deve ser evitada.
# por Blogger Farmasa : sexta-feira, janeiro 14, 2011

 

 

 

Não faltam médicos e a prova disso é o racio que temos, superior ao da UE. O problema está na distribuição desse numero. Ninguem quer ir trabalhar para o interior, aliás, a senhora dra. ministrada da saúde oferece um bónus mensal de 750€ para quem quiser ir para lá trabalhar.
O aumento exponencial das vagas de medicina, pelo menos a partir de 2003/2004, só de fará sentir 6 anos depois. O numero maximo de vagas para o MIM destes 2 últimos anos, só se fará sentir em 2015, pelo menos. Até lá o problema da falta de médicos reside no facto de haver um rácio muitíssimo menor por habitante nas zonas do interior, do que no litoral.
# por Anonymous Rita B. : sábado, janeiro 22, 2011

 

 

Enviar um comentário


 

 

 

ARQUIVOS

maio 2003      junho 2003      julho 2003      agosto 2003      setembro 2003      outubro 2003      novembro 2003      dezembro 2003      janeiro 2004      fevereiro 2004      março 2004      abril 2004      maio 2004      junho 2004      julho 2004      agosto 2004      setembro 2004      outubro 2004      novembro 2004      dezembro 2004      janeiro 2005      fevereiro 2005      março 2005      abril 2005      maio 2005      junho 2005      julho 2005      agosto 2005      setembro 2005      outubro 2005      novembro 2005      dezembro 2005      janeiro 2006      fevereiro 2006      março 2006      abril 2006      maio 2006      junho 2006      julho 2006      agosto 2006      setembro 2006      outubro 2006      novembro 2006      dezembro 2006      janeiro 2007      fevereiro 2007      março 2007      abril 2007      maio 2007      junho 2007      julho 2007      agosto 2007      setembro 2007      outubro 2007      novembro 2007      dezembro 2007      janeiro 2008      fevereiro 2008      março 2008      abril 2008      maio 2008      junho 2008      julho 2008      agosto 2008      setembro 2008      outubro 2008      novembro 2008      dezembro 2008      janeiro 2009      fevereiro 2009      março 2009      abril 2009      maio 2009      junho 2009      julho 2009      agosto 2009      setembro 2009      outubro 2009      novembro 2009      dezembro 2009      janeiro 2010      fevereiro 2010      março 2010      abril 2010      maio 2010      junho 2010      julho 2010      agosto 2010      setembro 2010      outubro 2010      novembro 2010      dezembro 2010      janeiro 2011      fevereiro 2011      março 2011      abril 2011      maio 2011      junho 2011      julho 2011      agosto 2011      setembro 2011      outubro 2011      novembro 2011      dezembro 2011      janeiro 2012      fevereiro 2012      março 2012      abril 2012      maio 2012      junho 2012      julho 2012      agosto 2012      setembro 2012      outubro 2012      novembro 2012      dezembro 2012      janeiro 2013      fevereiro 2013      março 2013      abril 2013      maio 2013      junho 2013      julho 2013      agosto 2013      setembro 2013      outubro 2013      novembro 2013      dezembro 2013      janeiro 2014      fevereiro 2014      março 2014      abril 2014      maio 2014      junho 2014      julho 2014      setembro 2014      outubro 2014      novembro 2014      dezembro 2014      janeiro 2015      fevereiro 2015      março 2015      abril 2015      maio 2015      junho 2015      julho 2015      agosto 2015      setembro 2015      outubro 2015      novembro 2015      dezembro 2015      janeiro 2016      fevereiro 2016      março 2016      abril 2016      junho 2016      julho 2016      agosto 2016      setembro 2016      outubro 2016      novembro 2016      dezembro 2016      janeiro 2017      fevereiro 2017      março 2017      maio 2017      setembro 2017      outubro 2017      dezembro 2017      abril 2018      maio 2018      outubro 2018      janeiro 2019      fevereiro 2019      julho 2020      agosto 2020      junho 2021      janeiro 2022      agosto 2022      março 2024     

 

Perfil de J. Soares Peliteiro
J. Soares Peliteiro's Facebook Profile

 


Directórios de Blogues:


Os mais lidos


Add to Google

 

 

Contactos e perfil do autor

 

 

Portugal
Portuguese flag

Blogues favoritos:


Machado JA

Sezures

Culinária daqui e d'ali

Gravidade intermédia

Do Portugal profundo

Abrupto

Mar Salgado

ALLCARE-management

Entre coutos e coutadas

Médico explica

Pharmacia de serviço

Farmácia Central

Blasfémias

31 da Armada

Câmara Corporativa

O insurgente

Forte Apache

Peopleware

ma-shamba



Ligações:

D. G. Saúde

Portal da Saúde

EMEA

O M S

F D A

C D C

Nature

Science

The Lancet

National library medicine US

A N F

Universidade de Coimbra


Farmacêuticos sem fronteiras

Farmacêuticos mundi


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Creative Commons License
Licença Creative Commons.