A maioria do actual Executivo poveiro decidiu, finalmente, descer à blogosfera. Território que sempre afirmara não frequentar. Afinal, a imprensa local noticia agora que o presidente e o vice-presidente da autarquia apresentaram queixas na PJ contra os autores de três blogs. Dois serão, pretensamente, anónimos. O já desaparecido NAPONTADOCAIS e o POVOAONLINE. O terceiro é o perfeitamente identificado CÁ 70, cujo autor é o líder da oposição socialista no executivo camarário. Reclamam os queixosos de atentados ao seu «bom-nome» e de ingerência na sua «vida pessoal».

Creio serem compreensíveis os motivos das queixas aos primeiros dois blogs. Ambos produziram, inquestionavelmente, acusações muito graves. E não apenas sobre os autores das queixas. Ora a ordem jurídica em que vivemos obriga-nos, a todos, a fazer prova de qualquer acusação sobre terceiros. Seja qual for o canal de difusão, o que incluirá a ainda desregulada blogosfera. E sobre isto, ponto final. Aliás, trata-se de peditório para o qual já dei. Quer a um quer a outro.

Já não será, entretanto, tão compreensível a acusação ao autor do CÁ 70. Sendo seu leitor habitual e, algumas vezes, postante, não tenho memória de alguma vez ter lá encontrado alguma acusação que se possa considerar de cariz eminentemente pessoal. A personalização, em alguns dos seus textos, relevará da luta político-partidária que o seu autor vem protagonizando. Com a legitimidade de um outro qualquer membro autárquico eleito. Creio que isto será perfeitamente evidenciável a quem se proponha consultar o blog em causa.

Não havendo, na minha perspectiva, um motivo, a motivação para a apresentação desta queixa sobre o blog de Silva Garcia só poderá ser, evidentemente, política. No que se proporá aproveitar do fumo causado pelas acusações aos dois blogs anónimos. Associando a «cobardia» do anonimato, como classificou há tempos o presidente do executivo poveiro, ao nome do seu principal adversário político. Ora, na minha modesta opinião, trata-se de um deslize da maioria do PSD. No que será mais uma prova do seu crescente desleixo estratégico (ver Notas 1. e 2.). E no que Silva Garcia é, efectivamente, o maior culpado.

Pese embora a continuada maioria absoluta no executivo, o PSD não tem conseguido conviver com o afrontamento constante do programa político do opositor. Os vereadores da maioria parecem tolhidos pela simples presença dos colegas minoritários. O que parece dever-se, para quem está de fora, à diferente dimensão de Silva Garcia. Que tem, também, sabido marcar pontos com a inclusão das suas propostas e recomendações nas actas das reuniões da câmara. Mesmo que ali não aprovadas, ou sequer discutidas. Mas que é perceptível serem alternativas à forma como vem actuando e decidindo a actual maioria. Como se poderá verificar pela leitura do Portal da CMPV. Ora é esta nova dinâmica que tem retirado a oposição do vaso de flores que habitualmente adornava a mesa das reuniões de anteriores executivos poveiros.


(Nota 1.) Na semana passada, o «Póvoa Semanário» pretendeu recolher a opinião sobre o mandato ao neófito responsável pelas pastas dos Recursos Humanos, Finanças e Desenvolvimento Sócio-económico. O que de concreto se ficou a saber é que aquele vereador está «desiludido com a oposição». Nada de novo, portanto, nas prioridades do executivo poveiro. Entretanto, o mesmo jornal publicou o teor de uma troca de palavras que terá havido entre o presidente da Câmara e o líder da Oposição. Onde a pérola, mais uma, pertenceria a Macedo Vieira, ao questionar Silva Garcia. «Quem é o senhor?» Prova de que a desilusão poderá levar à amnésia?

(Nota 2.) Ficou a saber-se também que, afinal, o PSD poveiro é contra as portagens na A28. Como o presidente da Câmara andava a ser criticado por defender o salutar princípio do utilizador-pagador, a sua comissão política decidiu pregar o contrário. Não está mal pensado. Um pé no Sim e outro no Não. Não sei é se isso será suficiente para justificar os brutais aumentos nos custos da água (7%) e na recolha do lixos (15%) anunciados para o próximo ano. Algo me diz que correm o risco de mais uma dolorosa espargata.



«Considera o que se diz e não te preocupes de saber quem o disse» (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Capítulo 5, nº1)