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Impressões de um Boticário de Província

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terça-feira, 29 de novembro de 2005

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Vai rija, no Médico explica, a discussão sobre a possibilidade de os Farmacêuticos e os Enfermeiros puderem vir a prescever fármacos, à semelhança do que acontecerá em Inglaterra:

«UK's Secretary of State for Health Patricia Hewitt announced .../..., nurses and pharmacists will acquire broad drug prescribing rights. Nurses and pharmacists will be able to attend an extra training course giving them permission to prescribe almost every licensed medicine for any medical condition - with the exception of controlled drugs.»

Nos Estados Unidos,como se lê neste apontamento, vai-se mais além e existem mesmo clínicas em lojas, como as da Wal-Mart, onde Enfermeiros diagnosticam e estabelecem terapias.

Embora tenha uma visão bastante liberal do mundo e embora defenda que mais importante que os títulos é a competência de cada um dos profissionais, julgo que há situações, problemáticas, onde convém adoptar um certo conservadorismo.
Já opinei no Explicador, mas resumo aqui a minha posição relativa à realidade Portuguesa, concisa para ser clara:
  • Não concordo que Enfermeiros venham a prescrever porque não têm competência técnica para o efeito.
  • Não concordo que Farmacêuticos venham a prescrever porque há incompatibilidade notória com as funções que desempenham.
Defendo antes, a especialização de funções e a colaboração em equipas multidisciplinares. Coisa que não acontece por cá, mas enfim.

Agora para terminar, e como não podia deixar de ser, para "picar" o Médico e, já agora, o Enfermeiro apresento as razões, genéricas, porque é difícil trabalhar com as suas classes:
  • Um Médico tem sempre a mania de que é "bom", embora não tenha a mania que sabe tudo.
  • Um Enfermeiro tem sempre a mania que sabe tudo, embora não tenha a mania que é "bom".
Eu, pessoalmente, mesmo assim, prefiro trabalhar com Médicos, os Enfermeiros ninguém os atura, são incapazes de pronunciar a expressão "não sei", são uns bitaiteiros, mas não passam da rama.

E só mais uma, verdadeira, ouvida, numa conversa séria, a um grupo de Analistas Lisboetas: Sabem quais os Médicos que mais se interessam pelos doentes, que mais ligam para o Laboratório a saber de resultados ou a insistir na sua urgência?

Os Médicos Veterinários!!!

Peliteiro,   às  22:57

Comentários:

 

Nada como uma "boa" generalização de todas as pessoas pertencentes a uma classe. Já foi moda, já.
Só lhe posso dizer que lamento que pense assim.

 

 

 

Essa dos veterinários é, pelos vistos, um "defeito" de âmbito nacional. Se os médicos fossem assim, eu passava o dia todo pendurado no telefone, e já assim às vezes até fico com a orelha inchada....!
# por Anonymous Anónimo : quarta-feira, novembro 30, 2005

 

 

 

Claro que já para se trabalhar com ignorantes e mal informados presumo que trabalhe de graça... (já agora esta também foi a jeito de provocação).

Por isso como não o quero mal informado deixo-lhe um breve resumo histórico.

A arte de Enfermagem apresenta uma antiguidade tão extensa como a do nascimento do Homem. Sendo as primeiras Enfermeiras da História as mães, mães essas que cuidavam e zelavam pelo bem estar da família. Arte essa que foi através dos tempos passada de mães para filhas de, geração em geração, cabendo sempre à mulher o papel de prestar cuidados aos mais debilitados. Ou seja, crianças, pobres idosos e mulheres em trabalho de parto. Cuidar era, portanto instintivo, algo inerente à condição de Mulher.

Desde de sempre, o Homem tenta associar o fenómeno doença a possíveis causas produtoras da mesma, existindo mesmo, vestígios de saúde comunitária nas primeiras civilizações conhecidas.

A Religião desempenhava então, o papel de orientadora da medicina, sendo os primeiros médicos nada mais que sacerdotes ou feiticeiros, que justificavam as doenças, através da presença de espíritos. As terapias aplicadas não eram mais que práticas de magia, feitiçarias e o uso de algumas plantas medicinais.

Os Babilónicos destacaram-se pela importância que deram à higiene, e também por terem revelado possuir aptidões médicas traduzidas no uso de medicamentos no combate às doenças. Os médicos da altura estavam sujeitos a regras, de acordo com o código de Hamurabi que dizia: “Ao médico que com um canivete de bronze abrir um abcesso e matar um doente, será cortado as mãos”.

Surge mais tarde o cristianismo que influência o decurso da História de Enfermagem. A fé cristã propaga valores como o Amor e a Caridade. O “Fazer o bem ao próximo”, torna-se um acto de Amor para com Deus, sem esperar nada em troca. Deste modo, surge aquela que seria considerada a mãe da Enfermagem Primitiva, Fabíola. Esta, com a fortuna que possuía, constrói um Hospital e torna-se uma das suas enfermeiras mais devotas, trazendo para seu abrigo doentes e pobres.

É também no Antigo Testamento, que está reflectido o Código de Saúde Mosaico dos Hebreus que continha as bases práticas de manutenção da saúde e prolongamento da vida. Nesta civilização as mulheres destacavam-se pelo apoio fornecido aos enfermos e suas famílias através de visitas planeadas.

Foi na Grécia Antiga que a prestação de cuidados de saúde passou a ser do encargo da sociedade, possuindo as grandes cidades, médicos remunerados por fundos públicos. Hipócrates foi considerado então, o “Pai da Medicina”, devido através de métodos empíricos, ter tentado sistematizar e desmistificar o tratamento das doenças, dando ênfase à relação saúde/equilíbrio dos indivíduos e do ambiente. Para ele a doença não era mais do que um desarranjo do organismo, não havendo nada de sobrenatural no seu processo.

Durante o Domínio do Império Romano, foi atribuída muita importância a actividades como, o fornecimento de água potável, construção de sistemas de esgotos e limpeza de ruas. Uma das suas características mais marcantes, foi o facto de terem criado um serviço de saúde eficaz, com a construção de Hospitais especiais para o abrigo de doentes, deixando para trás as estruturas inadequadas dos conventos.
Com o declínio deste Império, surge uma desintegração da organização e prática da saúde comunitária. É então, mais tarde, na Idade Média (1096-1433) que surge a imagem de enfermeira, ligada à de mulher religiosa que cuida dos desfavorecidos, com o amor que tem para com Deus. É então frequente, constatar que os hospitais estão em anexo com igrejas, atribuindo-lhes assim, um carácter mais sagrado. As actividades de enfermagem sofrem um grande desenvolvimento a quando do início das cruzadas (séc. XI, XII, XIII), em que os enfermeiros juntam-se pele primeira vez às Ordens Militares. Devido à grande procura de cuidados de saúde é constatado que o número de enfermeiras religiosas não é suficiente, sendo então formados grupos de Diaconisas.

É no séc. XIII que surge a palavra inglesa “Nurse” que tem a sua origem na palavra “nutrix” que em latim significa “mãe que cria” .

Entre 1500 e 1700, na Era do Renascimento, a medicina deu grandes passos. Deram-se uma série de avanços tecnológicos, que seriam o suporte da saúde comunitária moderna. Os cuidados de enfermagem continuam a cargo de freiras e pessoas cristãs, que não possuem formação em enfermagem, sendo então os requisitos apenas um pouco de prática e alguma habilidade.

É também nesta altura que se ouve falar pela primeira vez em humanismo, tendo a prática da saúde começado a ser influenciada por valores como a dignidade e a vida humana.

Ainda no Século XVI, São João de Deus fundou as Ordens Masculinas sendo uma das mais conhecidas a Ordem dos Irmãos de S. João de Deus. Esta ordem baseava-se na premissa “Irmãos fazei o bem”. Foi S. João de Deus que iniciou a prática de separarem os doentes de acordo com a doença que padeciam, e também a de usar roupa branca no leito dos doentes. Foram então, criados hospitais e práticas que viriam a influenciar uma vasta parte do mundo civilizado. Em 1741 foi escrita por P. Santiago a “Postilha Religiosa e Artes de Enfermeiro”, sendo este um dos primeiros livros de enfermagem em Portugal.

Por altura da Revolução Industrial, a população aumenta drasticamente, a procura dos cuidados de saúde é cada vez maior, superando a capacidade de resposta dos voluntários. Estas sucessivas alterações iriam marcar a estrutura da saúde comunitária. Há uma renuncia ao catolicismo e as religiosas são expulsas. A lacuna de enfermeiras é grande, e é necessário substituí-las urgentemente. O trabalho de enfermagem começa a ser desempenhado por mulheres que pertenciam a baixos escalões sociais, e por vezes, de índole duvidosa. Surge aí uma diminuição da procura de cuidados de saúde, pois as pessoas recusavam-se a ser tratadas por aquelas que eram apelidadas por a “Escória da Comunidade”. Enfermagem sofre assim, um duro golpe.

No entanto, nos sécs. XVIII e XIX, os conhecimentos que os médicos possuíam sobre Biologia e Química são reforçados com novos avanços, e surgem novos tratamentos. A Enfermagem começa então a acordar de um passado elementar e baseado na experiência. A necessidade de instruir as enfermeiras era cada vez maior, no entanto a maioria delas eram analfabetas, o que tornava a tarefa quase impossível.

Decidido a acabar com a situação em que a Enfermagem se encontrava, surge Theodor Fliedner que em 1836 funda na Alemanha o Instituto de Diaconisas de Kaiserwerth. Este instituto fornecia as enfermeiras conhecimentos teóricos e práticos, assim como conhecimentos sobre ética e doutrina religiosa. Existia o princípio rígido de que as enfermagem deviam cumprir exactamente as ordens dos médicos, mas avistava-se já uma poderosa componente de inserção social. Este foi o primeiro passo para que outras instituições do mesmo género se criassem noutros países.

É nesta instituição que se forma Florence Nightingale, aquela que iria revolucionar a Enfermagem.

Nightingale nasce no século XIX em Florença- Itália e é mais tarde recordada como a fundadora da Enfermagem moderna. Decorria o ano de 1854 quando se deu a guerra da Crimeia. Nightingale teve a oportunidade de encabeçar um corpo de expedição de enfermeiros, que foram para os campos de batalha. Tendo o seu desempenho sido meritório de lhe atribuírem o cargo de Superintendente do Pessoal de Enfermagem do Corpo de Enfermeiras. No regresso a casa, publicou artigos sobre hospitais e a importância das Notas de Enfermagem, assim como directivas de como organizar e dotar os Hospitais.

Em 1860 concretiza um sonho, ao inaugurar a escola de Enfermagem “Nightingale Training School of Nurses”. Tendo esta como objectivos, fornecer um ensino metódico havendo uma interacção entre a teoria e a prática, pondo-se de parte o que os médicos julgavam ser Enfermagem. Deixa-se de dar exclusiva atenção à doença e à cura, começando a valorizar-se o paciente, centrando nele todos os cuidados.

Para Florence, Enfermagem é uma profissão generosa, independente e autónoma, que coopera com a medicina, mas que não lhe estava subordinada. Criou então o seu conceito mais conhecido de Enfermagem, sendo este, “Colocar o doente na melhor condição para que a Natureza possa agir sobre ele”. Tenta assim banir do seu tempo e do seu futuro a imagem de enfermeiras ignorantes sem qualquer qualificação, e que fossem hábeis serventes da medicina. Procurando assim, que enfermagem fosse baseada em motivações altruístas e organizadas em torno de necessidades sociais.

Também a jeito de provocação, também prefiro trabalhar com os Médicos é que esses de facto Tratam os Doentes, cabendo ao Enfermeiro CUIDAR.

Parabéns pelo blog, voltarei para responder sempre a provocações!

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# por Blogger Blogger de Saúde : segunda-feira, maio 07, 2007

 

 

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